terça-feira, 13 de abril de 2010

Um meio termo.



-Fique boa, fique boa, por mim!
Escuro
Peso na minha barriga
Escuro.
-Por favor Sarah, sabe que não pode me deixar...
Escuro.
Gosto ruim na minha boca...
-Engula vamos!
escuro
-Eu te amo tanto... volta logo...
Escuro
Algo segurava minha mão, uma respiração bária em minha coxa
escuro
-Minha querida, não fique ai para sempre, descanse bem, mas não deixe o Gui tão mal!
Escuro
Gosto ruim
-Isso, muito bem querida!
Escuro.
Brisa soprando em minha face.
Escuro.
-Sarah, eu preciso de você....
-Gui... precisa comer....
-Eu não vou deixá-la aqui.
Passos
Escuro.
Algo acariciando minha face por muito tempo, mas o carinho para, e sinto um peso sobre meu travesseiro.
Escuro
-Gui, deixe que eu fico ai, vá descansar, Helena esta preocupada...
-Me deixe Will.
Escuro
-Mas abe que não tem como ela ficar com você, ela não vai poder ir, eu cuidarei dela, você sabe, também a amo!
Escuro
-Por favor, por favor, por favor...
Escuro.
Gosto ruim
-Durma minha filha, descance...
Escuro
-Guilherm, Querido, Deve ir descansar, pelo menos vá tomar um banho, trocar de roupa...
Escuro
Sinto meu pescoço dolorido, tento virar a cabeça em busca de mais conforto, abro os olhos e vejo apenas uma claridade dolorosa, ponho os braços em frente aos olhos, uma sombra se aproxima de mim.
-Sarah querida, preciso que descanse, beba isso por favor!-Helena?
Gosto ruim.
Escuro.
-Acho que esse remédio esta fazendo mal a ela....
-Não penso assim, ontem ela até abriu os olhos e se mexeu...
-PORQUE NÃO ME CHAMOU!-A voz de Gui estava irritada... Gui...
-Você precisava descansar...-A vós serena de Hele se explicava...
-ACHA MESMO QUE ISSO É UMA JUSTIFICATIVA?
-Não briguem...-minha voz não passava de um sussurro fraco, ninguém ouviu...
-O que esta acontecendo aqui?-Will parecia irritado.
-Sua mulher não me chamou.-A vós de Gui era pura raiva contida.-Sarah abriu os olhos E ELA NÃO ME CHAMOU!!!!
-Não briguem...-Tentava falar mais alto, minha voz não queria sair...
-Gui o que você poderia ter feito?-A voz serena de Hele falava novamente, tão calma que nem parecia estar no meio de uma discussão.
-VISTO ELA!
-não briguem...-minhas voz estava apenas ficando mais fraca, estava cansada... porque será que eles não entendiam?
-OLHA AQUI MULEQUE, JÁ PASSOU DOS LIMITES, NÃO IA MUDAR NADAISSO, PARE DE FAZER CONFUSÃO....-Will furioso parou de falar bruscamente.
-Silencio, estão incomodando ela...-Helena fala um pouco ríspida.
-não briguem...-fala ainda com a careta de dor que tinha alarmado Helena, minha cabeça estava querendo explodir.
Um tempo em silêncio, sentia as pontas de um cabelo fazendo cosquinha em meu rosto, pelo cheiro devia ser Helena, uma mão gelada toca a minha testa:
-Ela ainda esta com um pouco de febre...
-Sara esta se sentindo melhor?-Gui fala docemente e preocupado, envergonhado por estar gritando com Helena no meu quarto. Abro meus olhos lentamente pra ver meu irmão querido, ele estava tão magro... como se tivesse envelhecido rápido demais, não tinha mais infância em sua face.
-Minha cabeça dói...
-Eu sei minha querida, mas já vai passar...-Helena
-Dói muito!-Eu choramingo.
-Helena, não esta na hora do remédio dela?-Will fala preocupado.
-Sim está...
Helena se afasta e vai até a minha cômoda do lado direito do quarto.
-Agora vai dormir mais um pouquinho Sarah...-fala Will se aproximando e acariciando a minha testa.
-Onde papai esta?-pergunto sonolenta
-Procurando outro médico...-Gui fala roucamente, eu sabia que ele estava emocionado demais, via isso em seus olhos, a felicidade por estar falando comigo.
-Você esta com uma aparência péssima...
-Hunf.-Bufa irritado.
-Sarah preciso que beba isso...
-Eu sei eu sei, mais eu não quero dormir...
-Por favor querida...
-Sarah, é pelo seu bem...-Gui fala baixinho me convencendo, como odiava isso...
Tomei o remédio e tudo escureceu novamente.

domingo, 11 de abril de 2010

Melhor ou pior?


O sol batia fortemente no meu rosto, irritada eu abri os olhos, olhei pra o lado e gemi baixinho, sentindo uma dor horrível no pescoço, ouvi o barulho alto de uma cadeira sendo arrastada e alguém se levantar dela saindo rapidamente,olhei para o lado e apenas vi um Gui apressado saindo rapidamente do quarto, evitando me olhar, sem nem ao menos parar na porta e olhar para trás, eu simplesmente fiquei pasma com essa atitude, chocada eu fiquei parada por muito tempo, sem pensar sem agir nem nada, apenas passando e repassando a cena dele saindo, tentando talvez entender, ou tentando perdoar isso... ou me perdoar talvez.
Não sei exatamente quando Helena entrou no quarto, me trazendo uma sopa bem quentinha, e só então percebi que estava com frio.
-Hele, o que aconteceu? Porque ele....-Perguntei temerosa, ela então fechou os olhos por alguns segundos, mas quando abriu tinha um olhar sigiloso, eu tinha razão, havia algo que eles não queriam me contar, algo que eu não ia querer saber.
-Coma Sarah, vai ficar tudo bem.-Falou me entregando a colher e se afastando da cama, olhando para janela, mas sem vê-la, com um olhar perdido e pensativo, e eu a observava curiosa, mas sem realmente ter certeza se queria saber.
-Quero falar com o Gui.-Falei decidida.
-Ele não esta em casa.-falou sem nem olhar pra mim, ainda fitando a janela. Eu me assustei com isso, meio atordoada tentei novamente:
-Quero falar com Will então.
-Ele saiu com o Guilherm.
Por um instante me calei, o que estava acontecendo? Respirei fundo, e agora mais cuidadosa do que nunca perguntei:
-Onde eles estão?
Hele então se vira para mim, me olha pensativa por algum tempo e depois responde:
-Eles foram provar os ternos, não lembra?
O casamento! A então era isso... E pela primeira vez me senti aliviada com ele, ainda tinha alguma coisa, mas pelo menos, não era agora.
-O que aconteceu Hele?
-Como?
-Onde Will estava?
Hele ficou em silencio e novamente olhou a janela pensativa, ela não ia falar.
-Como ele me achou?
-Como posso saber querida? –Fala docemente me olhando curiosa- Achei que você saberia...
-O que aconteceu, como ele sabia que eu tinha saído?
-Quando Will chegou perguntou por você, eu obviamente já tinha percebido que você tinha sumido, não tem noção de como foi entrar no quarto e não ver você, procuramos por toda casa, já íamos sair quando Will chegou, quando eu falei nem pude respirar que Guilherm já tinha saído correndo atrás de você, não sei como te encontrou...-Ela falou do modo doce de sempre, mas me fazendo sentir incrivelmente culpada.
-Ele está bravo comigo?
Silencio.
Sem que eu pudesse controlar lagrimar começaram a tentar fugir de meus olhos, virei a cara para que Hele não visse,mas acho que percebeu, porque rapidamente falou.
-Não deve estar bravo Sarah, apenas ficou preocupado, nunca o vi tão inquieto, quando veio com você no colo, ambos encharcados, fizemos de tudo para que ele fosse se secar, mas não adiantou, só saiu do seu lado quando eu fui te banhar, só então, por constantes suplicas do seu pai ele foi se trocar, mas não saiu do seu lado esse tempo todo.
-Porque ele saiu tão rápido?
Silencio.
-Hele por favor....
-Eu não sei.
-Eu sei que sabe.
Ela se sentou na cadeira e começou a medir minha temperatura, mostrando que a conversa estava terminada, e eu não estava em condições de discutir, estava com frio e com febre, meio tonta e nauseada, e durante todo o tempo ela apenas cuidou de mim.
Devo ter dormido a tarde toda, porque quando abri os olhos estava de noite, Gui estava sentado, com a cabeça encostada na cama, suas mãos tocando a minha mão direita, dormindo tão pesadamente que devia estar exausto, com a mão esquerda eu acariciei seus cabelos macios, o mais levemente possível para não acordá-lo.
Por muito tempo ficamos ali, eu admirando seu rosto e relembrando de fatos ocorridos na nossa infância, tanto vivemos juntos e tanto ainda deveríamos viver... Pelo menos era o que eu esperava.
Continuaria ali desfrutando aquele momento eternamente se possível, mas acabei dormindo.
Quando acordei Gui não estava mais ali, procurei desesperada pelo quarto, e então o vi ali, encostado na janela me olhando divertido, eu fui me levantar para abraçá-lo, mas ele me impediu.
-Fique ai, eu já estou indo...
-Gui por favor! Fique mas um pouco... Só alguns minutos!-Falei desesperada.
-Eu até ficaria, mais vai ter que provar seu vestido, e Helena vai vim aqui com a costureira ajustar um pouco mais o dela.
-Isso pode esperar!-Falei cada vez mais desesperada, porque ele não entendia que eu não poderia ficar sem ele!
-Mamãe vai se aborrecer...-Fala vagarosamente, sem olhar para mim.
-E desde quando ligamos para isso?
Ele ficou em silencio, parado no meio do quarto, pensando seriamente para onde iria.
-Gui, por favor, por favor!-implorei, já sentindo novamente aquela velha angustia que geralmente era acompanhada por lagrimas, eu estava chorando muito ultimamente...
Percebendo o quanto eu estava mal, todo o plano inicial de Gui foi trocado pela sua velha mania de realizar meus pedidos, eu o amava tanto! E ainda amo...
Gui se sentou ao meu lado na cama, me apoiou em seu corpo e me abraçou, me sentando no seu colo, acariciou meus cabelos como eu fiz com ele, como ele fazia quando eu estava com medo, não que isso fosse comum claro, umas 3 ou 4 vezes até aquele dia...
-Esta tudo bem... tudo bem...-Ele sussurrou no meu ouvido, eu o abracei fortemente, escondendo minha face em seu pescoço, e ele beijou minha cabeça docemente, era tão estranho isso... Poucas vezes precisei do seu carinho, e ele do meu, nosso carinho era a cumplicidade e lutas de espadas, não aquilo...-Você está quente.-Ele fala preocupado, me despertando de meus pensamentos.
-Não tem problema...-Falei o abraçando com força, estava com tanto frio...
-Sarah, você esta ardendo em febre!
-Só fique aqui comigo...-Sussurrei cansada.
-Tenho que chamar alguém!
-NÃO!-gritei horrorizada com a idéia de ele se afastando de mim novamente.-Grite por elas se quiser, mas não saia daqui.
Ele me fitou por alguns segundos, depois assentiu e gritou por alguém que pudesse ajudá-lo, abraçada a ele eu piscava longamente, lutando contra o sono, eu suava e isso me deixava apenas com mais frio, me aproximei mais dele mas isso não era mais possível, comecei a tremer, e então Helena chegou, ela tentou me tirar de Gui mas eu gritei e lutei ao máximo contra isso, ela então chamou Will, que rapidamente veio me desprender de Gui.
-NÃO! NÃO! GUI! FIQUE!- Gui então sussurrou no meu ouvido, me acalmando de um modo que apenas ele seria capaz:
-Vou ficar aqui Sarah, fique tranqüila, não soltarei sua mão.
-Eu te amo, você sabe né?-eu falei lutando contra o sono, ouvia alguém gritar para que chamassem o médico, e percebi que era meu pai... meu pai gritando... era algo tão...
-Eu sei, eu também te amo minha pirralha.-Ele falou sorrindo, mas os olhos preocupados e com um sorriso nos lábios eu acabei adormecendo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O principio do caos.



A medida que o casamento chegava eu ficava mais triste, agora iria perder dois grandes amigos, obviamente vendo o quanto aqueles dois inúteis se amavam fui incapaz de criticá-los ou de opor-me ao casamento,e assim o tempo passava, e eu acabava me isolando mais... Teria de me acostumar com isso...Ficaria sem eles, eles iriam embora, não seria mais como antes, eu estava com tanto medo, não sabia explicar exatamente do que... Talvez porque percebia que a minha infância estava passando mais, agora eu era mais cobrada, eu era a mocinha, e vendo que meu irmão estava indo isso ficava mais claro... Eu o perderia... Nossa infância e brincadeiras estavam se perdendo, não iria mais ver Will levantar Gui pelo pé, como fazia quando ele tinha 5 aninhos, apenas para me fazer rir, eu sempre estava com eles, mamãe louca atrás de mim, e nós três escondidos no celeiro, onde sabíamos que ela não iria, morria de nojo e frescurites femininas,não iria mais fechar meus olhos e sonhar com gigantes, montanhas e lutas de espadas, escutando histórias de marinheiros que se aventuraram pelo novo mundo, não.... Agora eu seria Samara mulher do fulano, seja lá quem fosse ele, pois eu sabia que logo chegaria a minha vez.... Tinha esperança de conseguir me salvar... talvez fugir com Gui... Mas esse não era o pior.
Eu estava criando corpo de mulher.
Argh! Tinha coisa pior que isso? Agora até meu pai me proibia de sair com Gui para brincar com os garotos da rua, tinha que ficar em casa direto, mesmo o Gui constantemente ficando comigo para que eu não me entristecesse, ainda assim era um saco. Me sentia culpada, a culpa não era do meu doce irmão se o mundo machista agora me via como garota, quando eu nunca fui, era horrível estar presa num corpo feminino nojento sem poder brincar, e ainda por cima, meu irmão estava na odiosa adolescência, não queria prende-lo. Os amigos dele iam chamá-lo a todo momento e ele recusava, com sua face branca retorcida e escondida atrás da franja ruiva, tentando esconder sua raiva, que sabia não ser por mim, mas ainda assim me enchia de culpa.
-Vá Gui, depois me conte, se ficar aqui não terá como me animar, pelo menos me traga histórias.-Falei em um dia chuvoso, cansada de me sentir culpada e egoísta.
-Só vou quando você for comigo.-Falou tentando ser forte, mas eu via que a idéia o tentava, em dias de chuva os garotos paravam em uma taverna qualquer e ouviam marinheiros bêbados contarem suas aventuras, eu nunca entreva nelas, me enojava as taverneiras mal vestidas que aqueles panacas mirins babavam feito cachorros.
-Gui, o que esta tentando provar?-me irritei, odiava ver aquela face maravilhosa tendo que se decidir só para manter os mimos que sempre me dava.-Você esta me irritando, vá com eles, eu sei que quer, não percebe que não é mais como antes? Eu cresci,agora tenho que ser como elas!-Falei apontando para minha odiosa mãe e irmã metidinhas mais incrivelmente bonitas e arrumadas, as duas com seus cabelos loiros presos com grampos e sei lá mais o que tinha no meio, bordando algo inútil.
Gui me olhou magoado, sabia que para ele era tão difícil quanto para mim deixar nossa infância para traz, eu era sua amiga, melhor amiga, éramos os ruivinhos pimentas, os únicos ruivos dos filhos do casal Kenneth, afinal Elô e Will eram loiros como minha mãe, puxamos ao meu pai, que agora era grisalho, então parecíamos deslocados no meio do conjunto.
-Não quero te perder Sarah -Fala tão desolado que meu coração foi bruscamente esmagado por uma onda de arrependimento, Mas quando via seu rosto de Homem, afinal seus traços infantis agora eram só no leve arredondado da bochecha, que já se ia, e nos olhos quentes, fora isto o rosto já tinha uma barba que já crescia novamente,já tinha a face belamente dura e angulosa, parecia um dos cavaleiros que tanto admirava, sua musculatura já estava definida e já alcançava Will no tamanho,e ao mesmo tempo que aquilo me era estonteante, me magoava, quando olhava para ele percebia que estava certa, ele precisava ir, e eu ia perde-lo.
Lagrimas começaram a tomar meus olhos,e ele percebia, eu odiava chorar, e ele sabia, ele também odiava, aquilo nos fazia ver o quanto eu era frágil, apesar de tudo, o quanto eu era uma garota, mesmo não querendo. Ele me abraça fortemente, unidos naquilo que mais prezávamos e que logo iria acabar, nossa amizade cúmplice, nosso amor incondicional um pelo outro, pois não existia Gui e Sarah, eram os pestinhas, ou no máximo, um dos pestinhas, éramos nós, e não dois reles eus.
Eu era o seu coração, ele o meu.
Ao mesmo tempo que chorava desolada afundando minha cabeça no seu abdômen, ele encostava seu queixo no topo de minha cabeça, não podia ver sua face,mas sabia que deveria estar pensativa e torturada, odiava ver ele com aquele belo rosto que me era tão conhecido, retorcido por minha causa, eu sabia que ele não choraria, mas ia ficar vermelho, engolindo o pranto como um homem, o homem que eu não era, e isso se provava através das lagrimas que eu deixava em sua blusa perfumada, seu aroma que era mais meu do que dele, me pertencia, assim como ele todo, e eu sabia que pertencia a ele, e saber que seriamos afastados por algo tão inútil como costumes e o tempo nos trucidava.
-Gui, eu te amo. Te amo muito.-falei entre lagrimas, me desprendendo dele e olhando seus olhos incrivelmente verdes, assim como os meus. Ele me olha por poucos segundos, segura uma mecha cacheada de meus longos cabelos ruivos e fitando meu vestido castanho, com a outra mão tocando minha mão pálida e delicada repleta de calos, que examinava com orgulho, logo depois me puxa para ele e me abraça fortemente.
-Eu também minha pequena selvagem.-Ele fala me agarrando pela cintura e me erguendo no colo, afundando a cabeça em meus cabelos, tenho certeza que para esconder as lagrimas, e eu abraço seu pescoço soluçando desolada, tudo que eu mais amava estava partindo.
Por algum tempo ficamos assim, Gui me desce e me encara seriamente, seus olhos estavam sérios, e neste momento percebi que tinha algo mais, algo que ele me escondia, algo que ele sabia que iria me machucar, e era por isso que relutava em me deixar, como sabia disso? Além da convivência tinha algo mais,ele me olhou como sempre me olhava quando era ordenado a me esconder algo, como presentes em meu aniversario, mais estava agindo como agia quando junto comigo sabíamos que levaríamos uma surra por ter roubado jóias da mamãe para trocar por espadas com algum ferreiro, ou guando o pastor reclamava por algum desrespeito grave que cometíamos... Como quando enchemos a sua cama de aranhas, ou colocamos cobras em cima de sua roupa, para que tivesse que adiar a missa. Mas a diferença é que agora eu não sabia o que era, e era algo muito ruim, porque do contrario não seria tão relutante em se afastar, e era muito incomum não me repreender pelas lagrimas.
Acho que todo aquele meu isolamento me fez esquecer de algo, me fez não prestar atenção em algo, não perceber o que estava mais perto do que imaginava, iríamos nos separar. Isso era fato. A pergunta era, como e quando, e pelo visto Gui já tinha a resposta, e eu não tinha certeza se queria saber.
-Gui vá com seus amigos, preciso ficar um pouco só.-falei me libertando dele e de seu olhar serio, ele logo percebeu que eu desconfiava.
-Não quero te deixar só.-Fala assustado, não era comum eu recusar sua companhia, eu sabia que ele não estava magoado, ele sabia o que acontecia, mas ao mesmo tempo nunca deixávamos um ao outro.
-Quero falar com Helena, sua presença esta me confundindo, preciso ficar com a minha amiga antes que ela se vá.- Falei vendo sua careta, sabia que ele não gostava de me ver sempre com ela,é claro que ele gostava dela, mas não de ser trocado.
-Não me quer?-falou serio, sua voz grave me assustando, não que não tivesse percebido ela se engrossar, mas era sempre tão doce comigo que quase não percebia o quanto a sua voz infantil foi trocada pela de um homem.
Eu suspirei cansada.
-Me deixe, você precisa de seus amigos, e eu da minha, vá antes que eu acabe me irritando com você.-Falei seria e decidida, ele me olhou profundamente, um olhar cortante e ressentido que quase me fez abraçá-lo, mas não o fiz, e ele foi, abalado e irritado ele foi para a chuva e eu corri para o meu quarto, encostei a porta e chorei, chorei tanto por medo do que viria a seguir quanto por desespero por me afastar cada vez mais da minha infância feliz e sadia, por ter pela primeira vez na vida quase brigado com meu amigo, meu Gui.
Chorei tanto que dormi,só acordando quando mais tarde Helena me chamou para jantar, Gui ainda não tinha voltado e me perguntaram onde ele estava,culpada e assustada por não saber a resposta, por pela primeira vez na vida não saber o que dizer sobre o meu par,eu sai correndo e voltei para o quarto para chorar e então Helena me acompanhou, meu pai preocupado e chocado foi para o seu gabinete completamente calado, minha mãe desnorteada foi com a minha irmã para porta esperar ter noticias dele, e Will, mais abalado e desnorteado do que qualquer um deles, por ter mais noção do que qualquer um deles da minha relação com Gui, saiu em busca dele.
Não conseguia mais chorar, estava esgotada mais não com sono, me sentei e olhei a chuva lá fora pela janela do quarto, Helena tinha ido buscar alguma coisa para que eu comesse, e vendo a chuva lá fora, com a dor de cabeça que eu estava por tanto chorar, apenas pulei a janela, sem capa sem nada, com a bota de montaria que sempre usava no lugar de calçados próprios para uma dama, e sendo atingida pela chuva gelada tudo melhorou.
Parecia um dia como qualquer outro em que seguia Gui até as colinas,estava escuro e eu sabia que não devia ir, estava desarmada e sozinha, mais eu não ligava, eu precisava daquilo, precisava esquecer de tudo.
Cheguei até uma a torre, que tinha um grande sino no topo, tocado apenas em épocas de invasões, eu subi e me deitei ali, molhada e com frio fiquei deitada em baixo daquele sino gigante olhando para seu interior, não pensando em nada, apenas ouvindo o barulho da chuva e desejando que o sino caísse sobre mim e me esmagasse, eu merecia, merecia por ser mulher, merecia por não ficar no meu lugar desde pequena e agora estar como a minha pequena desgraça miúda que me mandavam chamar de irmã.
Eu não sei em que momento que parei de conseguir me concentrar na chuva e dormir, só sei que isso aconteceu, eu dormi ali e só acordei no outro dia de manhã, com o sol queimando minha face, me levantei atordoada, sem saber o que tinha acontecido, mas em pouco tempo me lembrei de tudo e apenas me sentei na janela pensando seriamente em pular, e nesse meio tempo, onde eu me decidia se eu pulava e morria ou voltava pra casa e era assassinada começou a chover, titiritando de frio vi alguma coisa se mexer lá em baixo, Não consegui prestar atenção, a chuva embaçava tudo, só sei que em algum momento, bem depois do que pensei ter visto, a porta atrás de mim se abriu, eu não liguei, continuei fitando a chuva e me segurando nas paredes escorregadias, ainda sentada na janela da torre, quem entrou estava logo atrás de mim agora, me puxou e me tirou da janela, me colocou no colo, e mesmo com o cheiro forte de bebida e chuva senti o aroma conhecido, meu Gui estava ali, sem conseguir falar olhei sua face, tremendo como nunca tremi na vida, tendo minhas roupas coladas no corpo e molhadas, não que isso me envergonhasse, afinal tinha 10 anos, e ainda era uma criança, além de que era meu irmão que estava comigo, mas vento, frio, chuva e roupa muito molhada pelo tempo que fiquei não era lá muito agradável, só sei que meu eterno tudo me cobriu com sua capa, molhada, mas me protegendo da chuva, e me levou para fora de lá no colo, semi inconsciente em seus braços, sem falar uma palavra até a nossa casa, não me lembro se tinha alguém nos esperando ou não na porta, porque na metade do caminho perdi completamente os sentidos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Helena.


No outro dia acordei bem cedo de manha, e fui até o quarto onde a tal de Helena estava hospedada, que por sinal era ao lado do meu, ao entrar no quarto percebi que tinha varias coisas estranhas, tinha chicotes e uma espécie de estrela de metal presa a uma bota,coisas de ferro estranhas... ela era uma torturadora?
Eu andava lentamente olhando ao redor, a cortina branca e pesada começava a deixar passar pelas frestas os primeiros raios de sol, Helena se meche, vejo o seu corpo enrolado naquele emaranhado de lençóis brancos, tremendo eu me aproximo dela, estava com a minha espada a mão, a cutuco de leve com a ponta do dedo e ela abre lentamente os olhos, ao ver que eu estava ao seu lado ela abre seus lábios vermelhos pegando fôlego para gritar, eu rapidamente tapo sua boca e lhe peço silêncio com o dedo indicador nos lábios.
-não vou lhe fazer mal.-Disse sussurrando, ela assente com a cabeça e eu tiro a mão de seus lábios...
-Me assustou Sarah!-Eu olho para ela irritada, como assim Sarah? Quem era ela para me chamar pelo apelido carinhoso que apenas meu pai e irmão usavam? Acho que ela percebe. -O que quer a essa hora?-Pergunta mudando de assunto.
-Você vai roubar meu irmão de mim.-falei baixinho, eu mesma me assustei com a quantidade de mágoa em minha fala, mas entenda, Will era quase como um pai pra mim, ele me tirava de encrencas e cuidava para que minha mãe não ficasse muito brava comigo, ele me levava em passeios e me ensinava como fazer curativos,cordas, esgrimir... Ele era o carinho que eu nunca tive de minha mãe, e nem de meu pai, que mesmo sendo maravilhoso, não era capaz de ficar sempre comigo, afinal, trabalhava e era acima de tudo severo, e quando estava em casa a dona demoníaca o monopolizava, era apenas nós três, e eu, EU era a garotinha dele... Helena me olhou piedosamente, ela se desvencilhou dos lençóis e se sentou na cama, batendo ao seu lado no colchão o indicando para que eu sentasse.
-Will fala muito bem de você sabia? Ele também te ama muito...Podemos fazer um acordo se quiser, eu só caso com ele se me aprovar como...
-Eu não aprovo.-falo prontamente, ela ri, e o som angelical e entrecortado de seu riso me faz lembrar do som da água caindo na borda de uma tigela de prata. Será que foi seu riso que fez Will decidir me trocar por ela?
-Não pode ser assim, terá que passar no mínimo um mês conosco, e terá que ficar o tempo todo comigo.
-Você vai me torturar?
-Como?-Pergunta Helena surpresa. Eu então aponto para os chicotes e objetos de ferro.-A não, não, isso e para cavalos.-Fala sorrindo docemente.
-Você tortura cavalos?-ela começa a rir.
-Não! Eu monto! Nunca montou?-pergunta me encarando curiosa.
-Sim, mais não usamos tudo isso...
-Você já fez equitação?-Falo que não com a cabeça.-Posso te ensinar, minha família é famosa por ter ótimas amazonas,aceita?-Eu a olho com um pouco de descrença.-Aposto que vai gostar! Não vai ter que usar vestido e nem salto, e melhor ainda, se não gostar pode ir reclamar para o Will, feito?
-Feito.
A se eu soubesse... Mais tarde naquele mesmo dia eu me reuni com Gui, ele disse que era uma boa idéia então me seguiu até o local onde eu ia montar, aparente mente Will pediu para ele que me deixasse sozinha com Helena para que nos conhecêssemos melhor, parece que meu amado Gui não tinha tantos problemas assim com a noiva, só não gostava muito da idéia de perder Will, mas depois dele prometer que com ela teria de passar menos tempo viajando e mais tempo na cidade nos veríamos muito mais que antes, e pela primeira vez Gui não me acompanhou, eu estava sozinha.
Helena, ou melhor, Hele, Como ela me pediu para que a chamasse, era realmente muito boa em montar, ela me ensinou a maneira certa de subir no cavalo, e a não chicoteá-lo, apenas passar o chicote girando num local onde ele escutasse, e assim, sem bater, ele iria correr do mesmo modo, me ensinou que as esporas (estrelas de ferro) não deveriam estar amoladas, pois o objetivo não era machucar o animal, me ensinou como virar de maneira correta o cavalo e a melhor maneira para segurar a rédea, treinava comigo dando volta em postes e disse que eu estava apenas conhecendo o animal, mesmo com o ódio que tinha dela não podia deixar de admira - lá...Ela começou a passar os horários em que tocávamos piano nos ensinando e aprendendo musicas nova, se era uma boa professora, era uma aluna ainda melhor, paciente e muito inteligente, aprendia rápido e antes que pudesse perceber, passava horas e horas com ela conversando e trocando confidencias.
Eu me trai, acabei gostando dela.

domingo, 4 de abril de 2010

Minha infância.


Acho que para contar a minha história tenho que começar do começo certo?
Nasci na época em que o Romantismo dominava a Europ.
Era maravilhoso ler todos aqueles livros e chorar com desgraças, afinal eu cresci com românticos.
Meu pai, Elieser, na minha opinião era mo melhor pai do mundo,sempre se preocupava comigo e com meus irmãos, Will, Gui e El, minha irmã mais nova...
Minha mãe, eu nunca me dei muito bem com ela... Sempre á vi como uma aproveitadora, uma mulher burra e fútil como muitas da época, criticava meu modo de ser e tentava fazer com que meu pai me odiasse, ela sabia ser cruel de um modo inacreditável.
Willian, ou Will, era o mais velho, uma diferença de uns 20 anos, era o ajuizado e meio distante, sempre amei muito ele, meu orientador, ensinava ao Gui e a mim a arte da esgrima, obviamente que minha mãe odiava isso, já meu pai nem ligava, enquanto minha mãe tentava me bater com vassouras e varas por me meter no meio de meus irmãos e não respeitar meu lugar, meu pai docilmente cedia, e me salvava muitas vezes.
Gui... Guilherm , meu amado Gui... Uns 5 anos mais velho que eu, Meu companheiro de aventuras, meu irmão gêmeo em alma, meu salvador e o melhor esgrimista que o mundo já viu, pelo menos humano... Era de um coração selvagem e indomado, doce e o melhor irmão que eu poderia ter, pouquíssimas vezes me lembro de brigar com ele, ele sempre me escutava, sempre fazia o que eu queria, me mimava e protegia, era o meu anjo da guarda, meu doce irmão ciumento disposto a tudo por mim, e eu por ele, tínhamos uma amizade forte e duradoura, ninguém no mundo poderia com nós dois, fieis um ao outro, éramos os três mosqueteiros com o Will,mas nada ganhava de Gui no meu coração.
E Eleonor, minha irmã mais nova... por ser 5 anos mais nova que eu, não podia nos acompanhar em nossas aventuras, logo cresceu com minha mãe, aprendendo seus caprichos e a ser como ela, suas futilidades, mimos e sua crueldade, era sua preferida, a filha que sempre quis, e para mim, a irmã que me atormentava.
Era a Diaba, a filha da demônia mor, Tudo que eu odiava em forma mini, metida, educadinha, meiguinha, nojentinha, medrosinha... Uma dama digna da época, não sabia fazer nada de útil, alem de costurar bordar e tocar, eu aprendi a tocar com ela eminha mãe, era um dos poucos momentos em que não brigávamos, meu pai assistia a todas as aulas, só por isso.
Aos 7 anos sabia esgrimir como qualquer homem comumquase me igualava ao Gui, e Gui, na época com uns 12 amos, por sua vez quase se igualava a Will, que era muito bom, e já tinha 27 anos.... Nossa vida era assim, eu aprendendo a praticamente ser um homem, minha mãe se descabelando, e eu sendo a pior dama do mundo, acho que de dama eu só sabia costurar, arte que aprendi com a governanta para encobrir os furos que fazia em minha roupa nas minhas aventuras, e a tocar, afinal, não costumam dizer que musica acalma as feras?
Minha vida era simples até meus 10 anos, meu doce Will tinha então com 30 anos, em uma de suas viagens pela Europa voltou com o ser mais asqueroso que eu podia imaginar, uma moça. Uma rica e bela moça que seria sua noiva, e os pais dela, eu estava horrorizada. As únicas moças que eu conhecia eram para mim os demônios femininos feitos para me desgraçar, lembrando que eu não me considerava uma moça, ninguém me considerava, eu era uma espécie de ser estranho e extra terrestre que não me encaixava em nenhuma dominação, uma fugitiva da igreja que todos os padres rezavam pela salvação, sabendo o meu nome e idade, pedindo clemência pela minha alma. Mas voltando a Helena, a noiva do MEU Will, a primeira vês que me viu com os cabelos desgrenhados e vestida como um garoto, os lábios cortados brigando a socos e chutes com um visinho idiota que nem me lembro o nome, ele era mas velho que eu mas ainda assim eu teria vencido mesmo se Gui e Will não tivesse nos afastado, obviamente a moça me olhava de um modo...Gozado, sua mão apertava uma cruz que levava no pescoço e seus lábios faziam um pequeno o de medo... Eu a encarava com raiva, o que uma mulher de vestido e cabelos arrumados poderia ter feito para fazer meu irmão resolver passar o resto da vida com ela?
Eu ia descobrir...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Apenas uma breve introdução.


A pergunta nunca é quem sou, é o que sou.
Odeio quando aqueles garotos imbecis se atraem por minha beleza, e quando os atraio para um lugar afastado, onde suas mentes pervertidas acham que terão uma noite agradável em companhia daquela ruiva pálida, e ao sentirem meus lábios em seus pescoços roliços, perdendo suas infâncias para sempre, se contraem de prazer, sinto as peles arrepiadas em contato com meus lábios,e os mordo, e já é tarde...
Não sabem como é ridículo como hoje em dia eles acham que sou uma reles garotinha normal... Antes era bem mais emocionante encontrar uma presa, agora em uma noite poderia encontrar alimento suficiente para uma vida inteira... É patético.
Aposto que mesmo falando tudo isso, hoje a noite, quando sair para caçar, ao menos 4 jovens vão me olhar em apenas uma quadra, e um deles, terá sua ultima visão da ruiva pálida em um beco escuro...
eu sei que vai achar que é mentira, ou pior ainda, se encantara por mim, pensando que eu sou uma espécie de vampira "boazinha" como passaram a pintar a nossa raça desonrosamente... Não, não somos bonzinhos, também não somos aqueles super-homens, Matamos quando nosso desejo é forte, não nos apegamos a ninguém, eu particularmente vivo folheando calmamente paginas de livros e pautas de musicas, tocando meu piano e criando canções, aprendendo sobre o mundo humano e vivendo a história, a, e claro, sugando a vida das pessoas através de gotas vermelhas...
Gosto de falar que somos anjos, assim como Lúcifer era, anjos da morte, anjos da noite...
Nunca confie em vampiros, eles podem até chegar a ser seus amigos por um tempo, te encher de jóias e jantares caros, mas depois de certo tempo, quando cansarem de sua farsa, beberão todo o seu precioso sangue...
Apenas isso que queremos, o seu sangue.